Rostock, 4 de Junho
Ontem foi o dia de uma jornada dedicada aos migrantes e seus direitos. Um dia rico em iniciativas durante o qual dezenas de organizações, que trabalham pela resolução dos problemas dos migrantes, concretizaram meses de encontros. O dia começou morno e acabou numa grande manifestação que demonstrou a força real deste movimento na Europa.
À margem das iniciativas, alguns confrontos entre manifestantes e forças da ordem fizeram subir, desde que começaram os protestos, o saldo das detenções para 315 detidos e 10 ordens de apreensão por cumprir. A maioria destes casos será julgada esta quarta-feira pelo tribunal de Rostock.
O dia de protestos e mobilizações paralelas à cimeira do G8 começou calmo, com uma acção simbólica em frente ao Centro de Migração da cidade onde se reuniram cerca de 1000 pessoas.
Os oradores, todos imigrantes – africanos, palestinos, turcos e muitos mais - , incitaram ao combate contra o «racismo institucionalizado que aqui encontra a sua síntese», e apelaram aos que estão nas mesmas condições a não se renderem, mas a «resistir ante as ameaças e abusos das autoridades».
Frente a um espectacular aparelho de segurança, a manifestação dissolveu-se uma hora depois. Daí os activistas mobilizaram-se para outros objectivos: a sede de um supermercado Lidl e a casa onde se comemorou de forma muito emotiva o Pogrom (1) de há quinze anos.
Junto ao Lidl repetiu-se o protesto de ontem contra a multinacional culpada de explorar o trabalho migrante para oferecer preços baixos no mercado, mas a emoção na Sonnenblumenhus foi muito mais intensa. Há quinze anos, no dia 23 de Abril de 1992, organizações neo-nazis queimaram a sede de um centro para refugiados. Ninguém morreu nesse dia, mas o episódio representou um «culminar de uma larga série de actos de agressão contra os migrantes, que começaram em 1989», explica Sandro Mezzadra, filósofo e catedrático da Universidade de Bolonha, conhecedor a fundo do tema migração na Europa.
«Com o Pogrom de Rostock, a pressão (por parte da direita e da extrema-direita alemã) foi tão forte que o governo se viu obrigado a modificar o artigo constitucional que regula o refúgio e o asilo político. Nessa época um dos mais abertos, hoje muito mais restritivo».
Logo a multidão dirigiu-se aos arredores da cidade, até Fluchtlingslager, o centro para refugiados de Rostock. Já pela tarde os manifestantes saíram à rua com palavras de ordem como: «não às políticas racistas, não à brutalidade policial» e «todo o mundo é um lutador». Cerca de 20 mil pessoas foram rodeadas por milhares de polícias e camiões blindados que as bloquearam à entrada da cidade. Debaixo de uma ligeira chuva, os migrantes começaram em coro para os polícias anti-motim: «onde estavam em 1992?».
Uma delegação dos organizadores, todos migrantes – africanos na sua maioria – foi dialogar com os oficiais, que não só lhes propuseram desviar a marcha devido a ela estar autorizada apenas para 5 mil pessoas, como afirmaram desconhecer os grupos de manifestantes do chamado Black Block. «Não conhecemos ninguém», dizia o porta-voz da polícia. «A única violência que conhecemos é a que vivemos na fronteira e nos seus centros de detenção».
Finalmente, a marcha foi suspendida por decisão unânime, o que permitiu aos manifestantes dispersaram-se e invadirem a cidade pacificamente, face a uns polícias desorganizados perante a onda humana que pouco a pouco foi emergindo no centro urbano.
Asilo e Refúgio na Alemanha
O Centro para Refugiados Fluchtlingslager é uma novidade no panorama da regulação do fluxo de migrantes, cada dia mais numerosos, que chegam à Europa. Fruto das guerras e carestias nas regiões do sul do mundo, «os refugiados que aqui chegam são sobretudo africanos», confirma Mezzadra. «Estes centros são uma novidade, pois controlam os migrantes sem detê-los formalmente».
Este tipo de centros hospeda refugiados que no entanto são livres de sair e entrar. Todavia, dependem do governo de duas maneiras: estão obrigados a assinar um documento todos os dias, vivem e comem graças a um cheque diário que o governo alemão lhes oferece. «Uma nova forma, mais subtil, de controlo e manipulação das centenas de pessoas que chegam até aqui a pedir refúgio e ajuda a um governo que se supõe democrático», conclui Mezzadra. É uma estrutura que se diferencia dos Centros de Detenção Para Migrantes, instalados em todo o território alemão.
Na marcha, um refugiado proveniente do Togo comenta: «estamos aqui porque lutamos pelas condições de vida dos migrantes em toda a Europa. A condição dos refugiados na Alemanha é grave, todos estão prestes a ser deportados».
(1) um ataque violento e maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos).
Artigo retirado de Livratemeundo
Ontem foi o dia de uma jornada dedicada aos migrantes e seus direitos. Um dia rico em iniciativas durante o qual dezenas de organizações, que trabalham pela resolução dos problemas dos migrantes, concretizaram meses de encontros. O dia começou morno e acabou numa grande manifestação que demonstrou a força real deste movimento na Europa.
À margem das iniciativas, alguns confrontos entre manifestantes e forças da ordem fizeram subir, desde que começaram os protestos, o saldo das detenções para 315 detidos e 10 ordens de apreensão por cumprir. A maioria destes casos será julgada esta quarta-feira pelo tribunal de Rostock.
O dia de protestos e mobilizações paralelas à cimeira do G8 começou calmo, com uma acção simbólica em frente ao Centro de Migração da cidade onde se reuniram cerca de 1000 pessoas.
Os oradores, todos imigrantes – africanos, palestinos, turcos e muitos mais - , incitaram ao combate contra o «racismo institucionalizado que aqui encontra a sua síntese», e apelaram aos que estão nas mesmas condições a não se renderem, mas a «resistir ante as ameaças e abusos das autoridades».
Frente a um espectacular aparelho de segurança, a manifestação dissolveu-se uma hora depois. Daí os activistas mobilizaram-se para outros objectivos: a sede de um supermercado Lidl e a casa onde se comemorou de forma muito emotiva o Pogrom (1) de há quinze anos.
Junto ao Lidl repetiu-se o protesto de ontem contra a multinacional culpada de explorar o trabalho migrante para oferecer preços baixos no mercado, mas a emoção na Sonnenblumenhus foi muito mais intensa. Há quinze anos, no dia 23 de Abril de 1992, organizações neo-nazis queimaram a sede de um centro para refugiados. Ninguém morreu nesse dia, mas o episódio representou um «culminar de uma larga série de actos de agressão contra os migrantes, que começaram em 1989», explica Sandro Mezzadra, filósofo e catedrático da Universidade de Bolonha, conhecedor a fundo do tema migração na Europa.
«Com o Pogrom de Rostock, a pressão (por parte da direita e da extrema-direita alemã) foi tão forte que o governo se viu obrigado a modificar o artigo constitucional que regula o refúgio e o asilo político. Nessa época um dos mais abertos, hoje muito mais restritivo».
Logo a multidão dirigiu-se aos arredores da cidade, até Fluchtlingslager, o centro para refugiados de Rostock. Já pela tarde os manifestantes saíram à rua com palavras de ordem como: «não às políticas racistas, não à brutalidade policial» e «todo o mundo é um lutador». Cerca de 20 mil pessoas foram rodeadas por milhares de polícias e camiões blindados que as bloquearam à entrada da cidade. Debaixo de uma ligeira chuva, os migrantes começaram em coro para os polícias anti-motim: «onde estavam em 1992?».
Uma delegação dos organizadores, todos migrantes – africanos na sua maioria – foi dialogar com os oficiais, que não só lhes propuseram desviar a marcha devido a ela estar autorizada apenas para 5 mil pessoas, como afirmaram desconhecer os grupos de manifestantes do chamado Black Block. «Não conhecemos ninguém», dizia o porta-voz da polícia. «A única violência que conhecemos é a que vivemos na fronteira e nos seus centros de detenção».
Finalmente, a marcha foi suspendida por decisão unânime, o que permitiu aos manifestantes dispersaram-se e invadirem a cidade pacificamente, face a uns polícias desorganizados perante a onda humana que pouco a pouco foi emergindo no centro urbano.
Asilo e Refúgio na Alemanha
O Centro para Refugiados Fluchtlingslager é uma novidade no panorama da regulação do fluxo de migrantes, cada dia mais numerosos, que chegam à Europa. Fruto das guerras e carestias nas regiões do sul do mundo, «os refugiados que aqui chegam são sobretudo africanos», confirma Mezzadra. «Estes centros são uma novidade, pois controlam os migrantes sem detê-los formalmente».
Este tipo de centros hospeda refugiados que no entanto são livres de sair e entrar. Todavia, dependem do governo de duas maneiras: estão obrigados a assinar um documento todos os dias, vivem e comem graças a um cheque diário que o governo alemão lhes oferece. «Uma nova forma, mais subtil, de controlo e manipulação das centenas de pessoas que chegam até aqui a pedir refúgio e ajuda a um governo que se supõe democrático», conclui Mezzadra. É uma estrutura que se diferencia dos Centros de Detenção Para Migrantes, instalados em todo o território alemão.
Na marcha, um refugiado proveniente do Togo comenta: «estamos aqui porque lutamos pelas condições de vida dos migrantes em toda a Europa. A condição dos refugiados na Alemanha é grave, todos estão prestes a ser deportados».
(1) um ataque violento e maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos).
Artigo retirado de Livratemeundo
Imagens- www.fotodiariog8nao.blogspot.com
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